Emeri Pacheco Mota Junior
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Descobri que a faixa-preta não era o destino final do praticante de Judô. Ao chegar nesse estágio, o praticante ainda necessitava evoluir e essa evolução não se referia somente a realizar as técnicas da arte com cada vez mais proficiência. Essa maturação que o praticante da arte haveria de passar, tinha como pressuposto a necessidade de uma evolução integral, cumprindo um processo em direção aos melhores objetivos almejados pelo nosso Mestre Jigoro Kano. |
Descobri que existiam os Dans e que após o quinto Dan, o praticante passaria a envergar na sua cintura uma faixa de cor diferente, primeiramente vermelha e branca, e depois toda vermelha, passando a ser denominado então de Kodansha – O Representante do Kodokan. |
Naquela época, na minha ingenuidade de iniciante, entendi que esse sim seria o lutador verdadeiramente invencível. Aquele que chegou ao ápice do conhecimento do Judô, detentor de toda técnica do seu estilo de luta, o verdadeiro mestre. |
E os anos foram passando, de forma que somente em 1982, na Academia Nacional de Polícia, em Brasília, como aluno do Curso de Formação Profissional, tive a satisfação de conhecer um kodansha pela primeira vez, o Sensei Gunji Matsuushi, tendo a honra de ser seu aluno. |
Daquele momento em diante, tive a oportunidade de conhecer muitos outros kodanshas através de cursos e treinamentos que participei, podendo citar os senseis Suga, Suganuma, Odair Borges, Matsuda, Shiozawa, Miura e, em especial, Massao e Luiz Shinohara, tendo por estes últimos especial carinho em considerando a atenção e cordialidade que sempre nos foram dispensadas durante os treinamentos que realizamos na Academia da Vila Sônia. De forma igualmente destacada, não poderia deixar de citar o sensei Takashi Haguihara, pela convivência, amizade e ensinamentos que recebemos constantemente. |
Hoje passados quase quarenta anos desde que coloquei os pés pela primeira vez em um dojô, muitos conceitos foram evoluindo e se transformando ao longo desse tempo. Como citado, conviví com vários kodanshas e o que mais ficou marcado nesses relacionamentos, a despeito do que seria inicialmente esperado, não foi o aspecto técnico desses professores, mas, sim, a postura e o comportamento ético e profissional que sempre identifiquei como o diferencial em cada um deles. |
No ano passado fui agraciado com a graduação de 6º Dan em Judô, conforme indicação da Comissão de Grau da LJDFE, o que me trouxe alegria e satisfação, recebendo essa comenda como reconhecimento pelos esforços despendidos em prol da nossa nobre arte, entretanto, senti no íntimo o grau da maior responsabilidade que assumi daqui para frente. O conceito do lutador invencível, conhecedor de todas as técnicas foi há muito por água abaixo. Verifiquei naquele momento que muito ainda tenho que aprender e evoluir, e que, felizmente, não cheguei ao fim da jornada. |
O aprendizado contínuo tem mostrado que um kodansha deve ser sinônimo de equilíbrio, um dos fundamentos maiores da nossa arte, o qual deve ser utilizado não somente no ambiente do dojô, mas em todas as situações em que seja necessário, principalmente no relacionamento com nossos semelhantes. |
Um kodansha deve não somente aparentar, mas desenvolver de forma sincera um comportamento ético, moral e profissional adequado à posição que ocupa. |
Exemplificando, tomamos a liberdade de transcrever alguns trechos de um artigo de autoria do professor Osvaldo Ichikawa (SP), kodansha, 8º Dan: |
“Um Kodansha deve ser respeitado pelo que ele é e pelo que ele representa em qualquer situação, seja discursando, dando aulas, cursos, palestras ou simplesmente assistindo uma competição.” |
“Nós difusores do Judô não podemos deixar que valores fundamentais como respeito, humildade e hierarquia entre outros se percam.” |
“É imperdoável que um kodansha não saiba o significado do termo “Shihan”. Quando falamos em kodanshas, logo vem a idéia de pessoas com alto grau de conhecimento dentro do judô, mas, às vezes, não é isso que acontece.” |
Hoje tenho a firme convicção que para ser um kodansha o judoca deve, dentre outros atributos, possuir um alto grau de conhecimento da arte, mas, antes de tudo, ter humildade para continuar seu aprendizado; apresentar comportamentos ético, moral e profissional ilibados; além do compromisso diário com a difusão e ensino do Judô, repassando os fundamentos formativos da nossa arte, tornando-se exemplo de valor para aqueles que o sucederão. |
Exemplificando, acredito que todos considerariam execrável o comportamento de um atleta derrotado de forma limpa e honesta no shiaijo, que fosse tirar satisfações com o atleta vitorioso fora do ginásio da competição, apenas por inconformismo pessoal com o resultado. |
O que se falar, então, se esse comportamento fosse advindo de um kodansha? |
Kodansha - 6º Dan
FONTE: http://www.judobrasil.com.br/2008/divulg194.htm
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